domingo, 17 de janeiro de 2010

Grande perda

Há uma semana meu pai morreu vitimado de cancer generalizado. Guardou em segredo sua condição até não ter mais jeito, e entre cirurgias que lhe aumentaram um pouco a sobrevida, mantinha sempre o ar positivo, nunca desistiu de viver. Em um mês passou para o próximo plano, deixando um vazio imenso em nossas vidas e na vida de todos com quem convivia.

Três dias após sua morte minha irmã deu a luz a uma criança, que encheu a casa de alegrias e de cuidados. Muitas pessoas passaram a nos visitar, uns querendo demonstrar a consideração pelo meu pai, outros para ver o neném, e foi uma situação completamente esdrúxula.
Não tive muito tempo para viver meu luto, na única semana que tive de folga tive que correr atrás da organização financeira da minha família, entre noites mal dormidas por tristeza e ansiedade, e despertares precipitados por obrigações, muitas visitas, nenem chorando e nenhum espaço para finalizar meu ciclo de luto.

Com ganas de ajudar, todos atrapalharam muito o processo, pois toda família ao perder sua coluna maior precisa fazer coisas que ninguem pode ajudar, como decidir como viverá a vida dali para frente, muitas decisões e mudanças. O espaço vazio precisa ser preenchido não com conversas amenizantes, mas com uma nova postura de vida.

Morrer faz parte da vida e estou feliz pelo meu pai, pois conquistou tudo que sempre sonhou e muito mais, sempre nos tratou com muito amor e me permitiu crescer como homem dentro de um ambiente saudável e seguro. Ele não me deve nada e lhe dou todo o direito de continuar sua jornada espiritual com agradecimento e reconhecimento. Vivemos nossa relação com respeito e amor, dissemos tudo que precisávamos dizer um para o outro e finalizamos cheios de orgulho também. Seu karma se cumpriu nessa vida, sua missão foi concluída e ele partiu, nada mais justo.

Viver essa vida é um ato de grande sabedoria, e acho curioso como qualquer um, mesmo sem instrução, é plenamente capaz de vivê-la. Pois são tantas vitórias quanto derrotas, ganhos e perdas. Nosso maior desafio é continuar vivendo de cabeça erguida, encontrando motivos para nos considerarmos felizes.

Ser feliz é uma decisão, não uma circunstância. Meu pai me mostrou isso muito claramente com seu exemplo de vida. Daqui pra frente são os que sobraram... por enquanto. Mas é bonito como os seres humanos se unem, se apoiam e seguem em frente. Pois mesmo a família mais unida do mundo é composta de seres independentes que se unem por laços de parentesco, amor ou amizade.

Mas a grande lição desta vida é que Nunca estivemos de fato juntos nesta jornada, embora nos amemos profundamente...